Cem Por Cento Cabeça
Quem joga golfe sabe o quanto a atitude mental é determinante para que o bom jogo aconteça. Quem inventou esse esporte há mil anos atrás já sabia que o golfe é 90% cabeça. Hoje há quem diga que é 90% cabeça e 10% cabeça.
– Cuidado com o shank – ouviu ele antes de entrar no campo. A palavra não havia sido endereçada a ele. Eram dois amigos sacaneando um ao outro antes de entrarem em campo para a volta final do torneio do Clube Curitibano, mas ele ouviu. Maldita hora em que ele ouviu aquela maldita frase. As palavras entraram pelos seus ouvidos sem pedir licença e se estabeleceram em sua cabeça e lá permaneceram assombrando seus pensamentos a cada tacada.
Durante toda a volta ele tomou todo o cuidado possível para que a maldição não lhe atingisse. Evitou ao máximo utilizar o sand wedge, por exemplo, taco com o qual ele estava mais sujeito à praga. Só o utilizou para sair das duas ou três bancas em que sua bola caiu. Os approaches eram todos feitos com o pitch wedge, muito mais seguro, embora menos preciso. Mesmo assim ele estava fazendo uma grande volta mantendo sempre uma larga vantagem de quatro ou cinco tacadas sobre o segundo colocado.
Ao bater o driver na saída do buraco dezoito, ele não se preocupou embora a bola tenha ido para a direita em direção às árvores. A segunda tacada deveria ser um lay-up, o que já era de qualquer forma a sua intenção. Não pretendia arriscar a travessia do enorme lago para chegar ao green. Não queria correr nenhum risco, ainda mais com aquela vantagem no cartão.
Fez o lay-up deixando sua bola cerca de vinte jardas adiante da estaca vermelha indicando que estava a oitenta jardas do centro do green. Excelente.
Melhor ficou quando viu seu oponente bater mal e a bola ir direto para o lago. Agora era só jogar para o green e dar quantos putts quisesse que seria campeão.
O que aconteceu daquele momento em diante ninguém, nem ele mesmo, consegue explicar. Chegando à sua bola, pensou em bater um sand wedge, taco calibrado por ele para oitenta jardas. Entretanto aquele maldito fantasma ainda vagava errante entre seus miolos. Resolveu então fazer um pitching controlado, pois melhor seria passar o green do que ficar curto e ir para a água. Assim pensou assim fez.
– Ele estava chorando por ter perdido o torneio – disse-me mais tarde a esposa parecendo se divertir com a desgraça do marido.
Ele havia terminado o buraco dezoito com 13 – treze! – tacadas depois de nada menos que quatro shanks seguidos antes de finalmente ultrapassar o lago.