Casais no Campo
O torneio era na modalidade Scramble em duplas, aquela que revoga a regra 13 do golfe, que diz que a bola deve ser jogada como está. Nada disso. No Scramble o jogador que está em pior situação simplesmente levanta a bola e a bate de onde o seu parceiro está. Uma beleza. Certas modalidades dão, de lambuja, alívio de dois cartões. Não há obstáculo que impeça uma tacada com um alívio desses. É o sonho de todo golfista; poder mover a bola, sem penalidade quando ela se aloja embaixo de uma árvore, ou se enfia num rough de dez centímetros de altura.
Em um desses torneios scramble as duplas eram preferencialmente mistas. Muitos casais formaram duplas, marido e mulher jogando juntos. Algo muito meigo de se ver. Casais que já completaram bodas de prata há algum tempo jogando lado a lado, planejando as jogadas, se ajudando em campo, dando dicas de como executar tal tacada, qual taco usar, a caída nos greens e por aí adiante. Tudo muito lindo, à distância, porque na prática a coisa é bem diferente. As mulheres, sem exceção, odeiam quando os maridos começam a dar palpite no seu jogo. Os mais espertos já aprenderam a ficar calados e deixar suas parceiras fazerem suas lambanças, da mesma forma que eles fazem as suas. Quem não as faz? Portanto quem é esperto não se põe a corrigir o stance ou o grip da parceira. Deixa isso para o professor dela. Ele que está sendo pago que o faça.
– E por que você não está fazendo dupla com a tua mulher? – perguntou ele ao ver o amigo formando dupla com outro jogador.
– Nunca mais jogo com a minha mulher – respondeu ele. – Só se for de brincadeira. Em torneio jamais.
– A culpa com certeza é tua, que fica dando palpites no jogo dela.
– Deve ser mesmo, porque na última vez que jogamos um torneio juntos, já na saída do tee do buraco um nossa parceria se degenerou de maneira irrecuperável. Ela bateu um gancho horrível jogando a bola na água, mas eu fiquei impassível, completamente calado. Fiz de conta que não havia visto nada. Assim mesmo ela, sem olhar para mim, disse: “Não fale nada!”. Eu respondi, com a maior serenidade do mundo e com medo de aumentar ainda mais a tensão que estava naquele momento no ar, que não falaria nada. Ela então completou: “Não fale e não pense nada!”.