Ele devia ter seus dezoito anos quando resolveu fazer o pacto. Não aguentava mais os resultados pífios que vinha obtendo nos últimos tempos. A cada torneio jogado ficava mais longe dos líderes. Há tempos não conquistava nenhum resultado expressivo e todos, amigos, família, treinador, lhe cobravam isso. Foi quando o diabo lhe apareceu em sonho.
– Funciona da seguinte maneira – disse-lhe o capeta. – Nossos contatos serão sempre por este canal. Basta você desejar sonhar comigo que aparecerei. Você somente poderá fazer pedidos que te afetem diretamente. São três pedidos a que você terá direito: o primeiro não gera nenhum compromisso, é apenas para você ver que a coisa aqui é séria, que nós temos palavra. O segundo pedido, se for feito, compromete a tua alma. Ela será minha. O comprometimento se torna irrevogável. O terceiro pedido é opcional. Você faz se quiser.
Ele não teve dúvidas, já que o primeiro pedido era grátis, foi logo pedindo:
– Quero ser o melhor jogador do clube.
– Isso é mole. Considere-se o tal.
Em poucos meses ele era, disparado, o melhor jogador do clube. Tornou-se imbatível no campo. Animado com os resultados resolveu se tornar profissional. Partiu para os Estados Unidos e seguiu carreira. Entretanto lá as coisa são diferentes, a concorrência é muito grande de sorte que e ele sequer conseguia passar os qualifyings para os grandes torneios. Voltou então a invocar o chifrudo.
– Você sabe que se fizer o segundo pedido, o acordo se torna irreversível – falou o diabo em sonho, preocupado em não deixar dúvidas quando ao contrato.
– Sim, sei mas estou decidido.
– Então peça.
– Eu quero ganhar torneios no PGA.
– Só isso? Você não acha que a tua alma vale mais que isso?
– Tá brincando? Você já viu os prêmios que estão pagando? Se eu ganhar alguns torneios por ano terei condições de comprar tudo o mais que eu quiser.
– Então está fechado.
Dali em diante foi só sucesso. Ganhou não somente um, mas vários torneios. Já no ano seguinte estava entre os grandes. Ganhou montanhas de dinheiro, fama, mulheres e tudo o mais que sempre sonhou. E havia ainda o terceiro pedido, que ele nunca havia feito pois tinha tudo. Que mais poderia querer?
Pensou em fazer algo nobre, que beneficiasse outras pessoas, tipo paz no mundo ou fim da fome na África, mas do diabo havia deixado claro que os pedidos deveriam ser para uso exclusivo do contratante.
– Quero ser o número um do mundo.
– Isso não vai ser possível – respondeu-lhe o chifrudo.
– E por que não? Lembre-se que tenho direito ao terceiro pedido.
– Eu até poderia te transformar no número um. Não seria problema se…
Houve uma pausa.
– Se o quê? – insistiu ele.
– … se os dez primeiros lugares já não estivessem prometidos.